quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Lost Machine Entrevista Irmão Carlos


“Sedução barata eu mato com o pé e esmago até o fim”, “Armas e videogames, demoram de carregar” e “E numa festa de banguela, sopa é de gilete, pra movimentar”. O dono dessas belas metáforas é o próximo alvo do Lost Machine Entrevista. Irmão Carlos é o líder da conceituada Irmão Carlos e o Catado. A banda traz na bagagem um mix entre rock, Black music, psicodelia e tudo mais que fizer bem aos nossos ouvidos. Com instrumentos diversos (pratos, panelas, pinicos etc...) e um visual para deixar Lady Gaga no chinelo, O Catado vem carregando um bom público aos seus shows e fazendo barulho no cenário underground baiano. Vamos à conversa. Let’s Go:

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A pergunta é clichê, mas ainda ta valendo. Como nasceu a banda? Porque o Catado?


-Tava no final da minha carreira musical, quando fui num show de Hermeto Pascoal, o cara tocou tudo, desde o público até o saco plástico que embalava o frasquinho de desodorante, que ele também tocou. Inspirado, resolvi gravar um EP pra registrar algumas composições. Gravei muitos instrumentos: baixo, guitarra, bateria e os objetos reutilizados que eu uso pra tirar som (lata, copo descartável, tubo, pinico, panela...). Convidei alguns amigos, músicos de outras bandas da cena, pra gravarem comigo. Disco pronto, enviei-o pro Garage Rock Festival, na intenção de ver como tinha ficado, aos olhos dos entendedores da coisa. Tinha que ter um nome, né? Irmão Carlos já era eu mesmo, o catado foi o que eu fiz: catei o povo pra tocar e catei as panelas da cozinha da velha. Catado é o que você seleciona, né isso? Então foi isso. Selecionado pro festival, tive que montar a banda em uma semana, pense na doidera que saiu. Depois do show, o povo se empolgou e quis continuar tocando. Ói eu fazendo tudo de novo, recomeçando a cachaça, porque essa onda de musica alternativa, em salvador, é uma cachaça, e eu só ando com a garrafa na mão heuhuehuheheuheu.


Quais são as principais diferenças entre o primeiro e o segundo cd? Em que atmosfera ambos foram gravados?


O primeiro é o Beliscando Azulejo, meio ‘disco’, meio ‘demo’. Eu mesmo gravei e mixei no meu estúdio: Caverna do Som. A gente tinha muitas idéias, mas ainda precisava amadurecer. Não fizemos nenhuma pré-produção. O estúdio não tinha muitos recursos, mas o resultado final foi gratificante. Já o mais novo: Agora é Agora, Depois é Depois. Tem uma metodologia bastante contemporânea, no sentido de experimentação e uso da tecnologia. Apesar de bastante orgânico, foi praticamente pré-produzido a distância: manda uma guia por email, o cara faz o dever de casa e vem gravar. Eu costumo dizer que esse é um ‘disco de proveta’, o que ninguém se viu durante a gravação, embora o processo de criação tenha sido presencial, compondo e ensaiando mesmo no estúdio. Eu estive em todas as seções de gravação, por que eu mesmo, mais uma vez, gravei e mixei no meu estúdio, só que dessa vez, com mais recurso e experiência, que o primeiro disco. Com lançamento previsto pra final do ano, esse novo filho já ta praticamente todo formado, agora são só questões burocráticas e pronto.


O som da banda percorre a Black music, rock e a psicodelia. Quais são as influências da banda e até onde elas podem ser percebidas na música de vocês?


Influência é tudo que todo mundo da banda ouve, mas, direcionando a alguns artistas: James Brown, Funkadelic , Tom Zé, Arnaldo Antunes, Raul seixas, Los Tetas, e música brasileira em geral. Um detalhe importante é que Sidnei, o batera, ouve reggae 24 horas por dia, embora não tenha, claramente na nossa música, ele ta lá embutido. Essas influências Podem ser percebidas bem claramente na estrutura de cada composição, embora a gente já consiga andar com as próprias pernas hehehe.


O conjunto da obra é perfeito, mas, por justiça, devemos admitir que o carro chefe da banda é a poesia das letras. Você mesmo que as escreve? Qual metáfora foi a mais significativa?


-Hurruu ! valeu pelo conjunto perfeito hehehe

As letras eu mesmo escrevo. Todo dia eu invento um conceito pra meu processo criativo, pra minha linguagem, mas na verdade eu ainda não sei o que é. Sei que tenho muita influência do rock concretista dos Titãs, do Arnaldo Antunes e do Raulseixismo. Quanto à metáfora mais significativa, eu não tenho uma, cada uma tem uma importância, depende do momento que eu to vivendo, e haaaaja momento.


Você consegue identificar alguma razão para que o rock nordestino tenha uma singularidade tão expressiva dentro do cenário nacional?


Isto é uma verdade. Trabalhos como Wado (AL), Mobojó (PE), Naurêa (SE), Cidadão Instigado (CE), e as celebridades soteropolitanas também, andam pelo país e até saem. Acho q a linguagem do nordeste é bem peculiar mesmo, deve ser pelo calor e pelo rango.


A Irmão Carlos e o Catado já goza de certa credibilidade na cena underground baiana. Porque essas barreiras ainda não foram rompidas?


-Heuheuheuheuheue sei não, velho.. acho que é porque tem muita gente melhor que a gente.


Além de ser líder da banda, você tem um estúdio (Caverna do Som) onde já passaram nomes como: Zefirina Bomba, Sua Mãe, Matiz, Capitão Parafina e os Haoles, Neto Lobo e Cacimba... Quais são os benefícios para uma banda investir em seu próprio estúdio? Funciona?


Funciona sim, e tem benefícios. Só tem que ter "pauduro" pra segurar a onda e não fechar, isso se o cara esperar que o estúdio te traga uma renda, pelo menos em Salvador. A cena alternativa aqui é muito boa, ta se fortalecendo de um jeito bacana, mas mercado ainda não existe, então, o capital não circula


Muito Obrigado pela entrevista e deixe sua mensagem final.


-Valeu o convite, Shon! Lost Machine na área! Uma mensagem?

Vote certo, ou nem vá lá, é uma opção Também!

Vão aos show das bandas baianas, aqui tem muita coisa boa!


Obs: A Irmão Carlos e o Catado faz show de lançamento do seu novo clipe às 18h00min do dia 3 de Outubro (Dia de Votação) no Espaço Cultural Dona Neuza – Marback Setor 2, Imbuí – Boca do Rio.