domingo, 21 de novembro de 2010

Entre a montanha e o chão

- É nós na fita – Disse o guardador de carro quando entregava o dinheiro do troco ao motorista.

- “É nós na fita” – Respondeu Ribeiro parafraseando-o – “É nós na fita” como eu adoro essa expressão Mariano, ela é magnífica – Disse Ribeiro passando a primeira marcha e tirando o carro, alguns metros, do lugar.

- “Tamo junto”, eu prefiro “tamo junto” – Refletiu Mariano

- No meu caso – começou Ribeiro – serve as duas. Ribeiro sorriu em direção de Mariano. Ele já conhecia a procedência deste sorriso.

- Você está apaixonado mesmo meu amigo – Disse Mariano lhe retribuindo o sorriso – Mas e a sua separação? E sua mulher? Será que é certo?

- Por favor, Mariano – Clamou Ribeiro – como você pode me pedir para me furtar deste sentimento. Minha mulher e eu já estamos separados emocionalmente. Agora eu quero namorar, estou com 35 anos, não posso deixar que a vida após o casamento me pareça algo acabado. Sabe qual época estou vivendo? A do “amor recíproco e sem controlo”. Minha amada é mais velha que eu, mas está se jogando de cabeça como se fosse uma jovem descobrindo o amor.

- Eu entendo Ribeiro, mas... – Tentou Mariano

- Se você entende – Continuou Ribeiro ao parar em um sinal – então não me venha com esse cartesianismo chato. Nem parece que você ainda está na casa dos 20. Você precisa ser mais kamikase, não ter medo de eclodir no avião, estar em queda livre. Sabe onde eu estou? Entre a montanha e o chão, simplesmente a sentir o vento no rosto.

- Verdade – refletiu Mariano vendo as luz verde da sinaleira passar por sua cabeça – estou feliz por você meu amigo, feliz por sua felicidade.

- E deve mesmo – Ribeiro exibia um sorriso apaixonante na face – ontem nós entramos na fase da descoberta de defeitos. Quando eu tive ciência que adoraria conviver com os erros dela, eu a mandei um e-mail com “nosso estranho amor” de Caetano. Conhece? Teu corpo combina com meu jeito, nós dois fomos feitos muito pra nós dois, não valem dramáticos efeitos, mas o que está depois – Ribeiro mantinha a voz empostada e a afinação que só o amor sabe dar aos não músicos – não vamos fuçar nossos defeitos, cravar sobre o peito as unhas do rancor, lutemos mas só pelo direito, ao nosso estranho amor.

Assim o caminho ia se passando. Ribeiro ia passando uma lição que só o amor podia ensinar. Mariano ainda se mostrava um pouco “pé atrás” com toda essa dedicação de Ribeiro, mas aos poucos ia vendo que era assim que acontecia, nenhuma restrição, nenhuma desconfiança. Existia a tal hora em que o coração falava, era isso que Ribeiro tentava descrever.

A ladeira que dava na casa de Mariano já estava chegando quando Ribeiro retomou:

- Ontem nós iniciamos uma briga, questão de incertezas e etc. mas veja como tudo se resolveu – Ribeiro deu a Mariano o seu celular e mandou-o ler uma mensagem mandada pela sua amada. A mensagem dizia um simples e sincero “eu te amo”. Ribeiro sorriu novamente e falou:

- Não a nada melhor que beijar a mulher amada, só beijar, passar a noite toda beijando-a e apreciando sua beleza. É isso o mais puro amor, eu estou feliz Mariano, ela me faz sentir isso, me faz sentir o descobrimento do amor. Nada como um amor após o outro para você descobrir o quanto pode amar.

Eles já estavam na porta do condomínio de Mariano, uma despedida já começava a ser ensaiada.

- Obrigado Ribeiro – Disse Mariano tirando o cinto – Durma bem... nem é necessário falar isso, na nuvem que você está o sono é bem confortável.

- Exato meu amigo – destrancou a porta – eu estou no lugar que eu quero ver você daqui a algum tempo. Ok? – Perguntou Ribeiro. Mariano sorriu, apertou sua mão e saiu do carro. Ribeiro já dava a partida no carro quando Mariano surgiu na janela.

Ribeiro! – chamou-o – É nós na fita.