terça-feira, 28 de julho de 2009

Entrevista com a Retrofoguetes



A Bahia é a terra do axé? Lógico que não, todos nós só enxergamos o que gostamos de enxergar. Para mim e para todas as pessoas que se aprofundam no cenário underground baiano a Bahia é a terra do experimentalismo e do rock n’ roll em sua mais pura essência, você vê isto? Pois é, eu vejo muito além, vejo o nascer de bandas que já marcaram seu nome na história do rock baiano e a Lost Machine teve o prazer de entrevistar o baixista de uma das melhores bandas que surgiram no cenário nacional (made in Bahia). CH o baixista da Retrofoguetes.

A Retrofoguetes é uma banda instrumental que surgiu em 2002, sendo formada por remanescentes da primorosa Dead Billies. Em 2004 ela lançou seu primeiro álbum Ativar Retrofoguetes, tendo na sua formação CH (Baixo), Morotó Slim (Guitarra) e Rex (Bateria). O primeiro traz uma pegada rock com predominância na surf music e foi bastante elogiado por várias camadas do meio musical. Em julho de 2009 a Retrofoguetes lançou seu segundo álbum, o Cha Cha Chá, um Cd que passea por diversas áreas sem perder o bom gosto e o timbre peculiar de Morotó.

A nossa Maquina Perdida entrou em contato com CH, baixista da banda, que nos concedeu uma bela entrevista, vamos lá:

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A idéia de montar uma banda instrumental foi tomada por que só assim vocês conseguiriam chegar a um estilo de som mais peculiar ou vocês não tinham mais paciência para ego de vocalista?

Na verdade tudo se deve ao fato de que sem vocal sobra mais dinheiro para os músicos, rsrs. Mas essa é uma vertente com a qual Rex e Morotó já vinham flertando desde seu trabalho anterior, os "Dead Billies". Com o fim da banda a idéia de um trabalho instrumental ganhou força e assim começamos a compor nossas músicas e dar forma ao projeto Retrofoguetes.

Bandas como a Retrofoguetes têm influências em diversas áreas musicais. Quais são suas principais influencias referente a estilos e artistas?

Existem muitas influências, Swing Jazz, Cocktail Lounge, Rockabilly, Psychobilly, Mambo, Surf Music, Polca, música mexicana, etc. Na Surf Music posso citar o Ventures, Dick Dale e Man or Astroman? como influências. Rockabilly e Psychobilly têm bandas como os Stray Cats, Cramps, Reverend Horton Heat entre muitas outras. Gostamos das trilhas de Spaghetti Western do mestre Enio Morricone, ouvimos o coral do exército russo, as polcas tradicionais da Moldávia, entre muitas outras coisas... E as referencias não param por aí, passam por filmes, seriados de ficção científica e quadrinhos. São coisas que gostamos e que de certa forma influenciaram na nossa formação.

Como é processo de composição de uma banda instrumental? Quem é o letrista? (rsrsrs)

As músicas podem surgir a qualquer instante, pode ser num quarto de hotel ou numa passagem de som, numa jam session ou até num passeio de carro. Às vezes trazemos algum esboço de idéia de casa também. Todos podem contribuir e interferir no processo, temos liberdade total uns com os outros e isso nos permite chegar aonde queremos com nossa música. Mas a coisa acontece de uma forma muito intuitiva, não é planejada, não sentamos e decidimos: "- Agora vamos fazer um Tango, agora uma polca..." Simplesmente a músicas vão aparecendo e a gente vai lapidando.

O PIB (Produto Instrumental Bruto) é um festival que só tem em sua grade musical bandas independentes. Existe uma cena paralela formada só por bandas instrumentais? Por favor, aconselhe algumas aos nossos leitores.

Existe hoje no Brasil uma gama imensa de bandas instrumentais com trabalhos bem bacanas. Pata de Elefante, Fantasmagore, Dead Rocks, Gasolines, Macaco Bong, Hurtmold, Estru´mental, Reverba Trio, são algumas delas.

As bandas instrumentais não parecem ter muita preocupação com os nomes de suas músicas, diferente de vocês, que mesmo não tendo letra conseguem relacionar o nome ao som (Santa Cicília, A Fantástica Fuga de Magnólia Pussycat, Bikini 1958). Quem pensa nos nomes das músicas?

Normalmente quem batiza as músicas é Rex, nosso baterista. Às vezes eu dou meus pitacos como foi o caso do "Falso Turco", relacionada a uma história que li de um robô vestido de turco que jogava xadrez. Na verdade havia um cara embaixo da mesa manipulando o boneco, daí o nome "Falso Turco". Mas sempre discutimos os nomes e as sensações que as músicas nos dão. "A Fantástica Fuga de Magnólia Pussycat", por exemplo, surgiu de uma perseguição de Morotó a sua gata, que na ocasião tinha fugido de casa. Enmascarado surgiu da minha idéia de um Western com robôs humanóides, como no filme "Westworld" de 73 com Yul Brynner, um faroeste de ficção científica.

A Retrofoguetes fez um show memorável no Teatro Castro Alves, sendo a primeira banda de rock a lançar seu Cd no local. Fale um pouco sobre a experiência desse show e como foi reproduzir o Cha Cha Chá com todos os instrumentos encontrados nas gravações.

Foi incrível... Subir naquele palco com aquele time de músicos e reproduzir fielmente o Chachachá... Bom, trabalhamos com músicos extremamente competentes, então não foram necessários muitos ensaios. Basicamente fizemos um ensaio para cada músico que participou. A Orkestra Rumpilezz, por exemplo, apenas passou a música conosco na montagem do palco, com as partituras em mãos, sob a orientação do maestro Letieres Leite. A produção do show foi bastante trabalhosa, tivemos muito pouco tempo para conceber e produzir este espetáculo (apenas um mês), então foi uma verdadeira maratona, mas no final deu tudo muito certo e tivemos o suporte de uma equipe de profissionais maravilhosos, todos escolhidos a dedo. O convite do Teatro foi uma surpresa para nós e uma honra, já que esse é o palco mais nobre da música brasileira e nos ser concedido o ineditismo de ser a primeira banda de rock a lançar um disco ali foi bastante significativo para nossa carreira.

O Ativar Retrofoguetes (primeiro cd) tem uma aura mais surf music, já no Cha Cha Chá (segundo cd) vocês passeiam por diversos ritmos. A idéia da banda é nunca ficar presa a algum estilo ou o segundo álbum foi algo mais experimental?

Justamente por acharmos que não devemos estar presos a nada fizemos esse disco dessa maneira. A Surf Music é um viés pelo qual caracterizamos o nosso som, você encontrará os timbres desse estilo em muito do que fazemos. No entanto conseguimos ter a capacidade de tocar aquilo que quisermos e soar "Retrofoguetes". Acima de qualquer coisa, hoje temos o nosso som, com características bem próprias, então por mais que toquemos estilos diversos, haverá sempre uma unidade.

A música underground virou uma forte realidade e tende a crescer, graças ao seu experimentalismo e ao advento de meios como a internet que facilitam a difusão do “Do It Yourself” (faça você mesmo). Vocês acreditam que o crescimento da cena underground também se deu pela decadência do cenário mainstream?

Existe aí uma confluência de acontecimentos. O crescimento da internet e a subseqüente queda do sistema feudal praticado pelas gravadoras nos mostra que existem novos caminhos a serem seguidos e aqueles que souberem utilizar essas ferramentas com inteligência, terão mais longevidade. Creio que há uma maior profissionalização na cena independente brasileira e isso acaba refletindo esse crescimento. Ninguém precisa de uma gravadora dizendo a você o que fazer com sua carreira, pelo menos é assim que eu penso, acho que o artista precisa decidir por si quais os melhores caminhos, acho muito importante ter noção de contratos, produção, etc. Hoje você pode ter um escritório de música em casa e se comunicar com o mundo.

Falando um pouco do passado. Em entrevista a MTV, o Thunderbyrd disse que a Dead Billies foi à melhor banda de Rockabilly do Brasil, infelizmente ela não teve grande repercussão nacional. Vocês sentem alguma tristeza pelo Dead Billies não ter chegado ao sucesso que merecia?

Apesar de não ter sido integrante da banda (Rex e Morotó são membros remanescentes do grupo), acompanhei o processo dos Billies de perto, pertenci a Dois Sapos e Meio, outra banda importante na cena local, e fizemos muitos shows juntos. Realmente eles foram os melhores dentro do seu estilo e ainda tinham muito a mostrar e a crescer. Mas são bastante reconhecidos pelo Brasil e tiveram sucesso com esse trabalho. O que é o sucesso? Pra mim é fazer excelentes discos e excelentes shows. Isso eles fizeram com primor. E sempre tocavam com casa cheia onde quer que fosse. Acho que a tristeza se deve ao fato da banda ter chegado ao fim, mas pensando de forma positiva estão todos aí dando suas contribuições artísticas, Mosckabilly tem o Teclas Pretas, Joe hoje acompanha Pitty e Rex e Morotó estão comigo no Retrofoguetes.

Obrigado a vocês, a banda é sensacional e o novo Cd já pode ser considerado um dos melhores de 2009. Falem agora o que quiserem e muito obrigado.

Obrigado pelos elogios, nos esforçamos muito para fazer sempre o melhor que pudermos. Compareçam aos shows, comprem os discos dos artistas que vocês gostam, esta é a melhor forma de se prestigiar um trabalho.


Um abraço a todos!

CH Straatmann(Retrofoguetes)


3 comentários:

Rafael Soares disse...

Cara, entrevista sensacional anderson! Ainda não ouvi esse ultimo cd do retro, mas se estiver metade de como o anterior estava vai estar simplesmente maravilhoso!
Porra shon, valeu mesmo! Otimo trabalho de entrevista e de importancia pra musica popular soteropolitana e pra baiana tb. Alem do que o rock merece ser sempre valorizado! Viva ao rock!

Unknown disse...

Muito boa a entrevista, Shon!
A Retrofoguetes tá de parabéns pelo som que vem fazendo e mostrando pro Brasil outros timbres que a nossa Bahia tem.
Abração!

Unknown disse...

Sobre o recente show no TCA( SALA PRINCIPAL POR APENAS 1 REAL "Sensacional PROJETO"). Enfim fora um grande show, estava lotada a a sala do teatro ainda tinha uma fila enorme pra comprar ingresso.......[..]...

Os caras são fodasticos. Muito bom.

E * Entrevista Legal.

Espero futuramente ver entrevista com a nova velha "RP"